A escrita como moldura da vida, por César Veneziani - miríade poética

A ESCRITA COMO MOLDURA DA VIDA

Como poeta eu tendo a inverter essa afirmação, colocando a poesia como fator central: “a vida como moldura da poesia”!

“ – Ah, mas poeta é sempre arrogante...”

Talvez... Mas raramente se vê um romancista/cronista/contista falando do seu “fazer artístico” na própria obra ficcional. Já o poeta usa de forma recorrente a metalinguagem como ferramenta de criação.

Fiz um levantamento rápido nos poemas que já publiquei e nos ainda não publicados em livro e encontrei 24! Fiz, então, uma pequena seleção deles e aqui divido com vocês:

Busca

se te busco carinho

     te encontro verso

se te busco beleza

     te encontro rima

se te busco toque

     te encontro estrofe

se te busco corpo

     te encontro soneto

se te busco amor

     te encontro elegia

se me deixas poesia

     te encontro saudade

(in “Asas”, Utopia Editora, 2009, pg 72)

TRAÇO

peço

quando faço

do meu traço

um verso

que nasça

do som que passa

e que a pena

apenas grafa

a graça

que o belo

– elo após elo –

em letras disfarça

(in “Neblina”, Editora Patuá, 2012, pg 12 – 13)

TIPOS

Há poetas de rosas brancas,

loiras tranças,

de musas de fartas ancas.

Mas há poetas dos espinhos,

amargas vinganças,

tortuosos caminhos.

Ora, pois,

independente do tema,

de tipos só há dois:

o bom e o mau poema.

(in “Versos avulsos e outras valsas”,

Editora Patuá, 2015, pg 13)

DE TUDO

Poesia sai da ferida aberta,

do vazio da ausência,

de todas as dores do mundo.

Sai também do amor correspondido,

do pôr-do-sol, da praia,

da mais profunda alegria:

de tudo sai poesia!!!

(Inédito em livro.)

ME ENGANA QUE EU GOSTO

"Ser poeta é muito bom porque eu não tenho           nenhuma obrigação de veracidade!"

Ariano Suassuna

O tema

"falar de poeta"

em poema

(a meta

linguagem)

é mito da imagem

do fingidor

que Pessoa,

não à toa,

é o mentor.

O poeta no seu verso

mente o que sente

e, no sentido inverso,

sente o que mente.

Talvez não...

Dizer que mente é exagero

ou então

excesso de tempero

em cada expressão.

O fato é

que a palavra do poeta

na certa

vai até

o infinito

e o mote dito

acerta de jeito

o peito

de quem sonha.

Portanto, poeta,

componha!!!

(Inédito em livro.)

Caro César, emoldurastes a vida de muitos hoje. Abraços.