Efemérides: molduras da memória, por Delma Pacífico

Efeméride. A palavra soa antiquada, é pouco falada ou escrita. Também faz lembrar efemeridade, 

atribuição do que é momentâneo, transitório. Mas, são as efemérides que fazem a moldura do nosso tempo. 

 Ao contrário da efemeridade, elas guardam a nossa história como civilização, inclusive. 

Registram o dia, o mês e o ano, ou só o ano, dos grandes acontecimentos, transformados

 em efemérides nos anos que  se sucedem. Se os fatos completam números redondos, como

 cem ou cinquenta anos, são motivos para a publicação de livros, lançamentos de peças de teatro,

 filmes, reportagens impressas ou digitais. É o homem na lua, a erupção do Vesúvio que destruiu

 Pompeia, a descoberta da penicilina, a queda do muro de Berlim, a libertação dos escravizados, 

com as inúmeras reflexões que suscita, o atentado ao World Trade Center, a criação da Internet e por aí vai...

A memória do cotidiano também muito me interessa. Sempre me cerquei de efemérides, e gosto da palavra,

 por conta do trabalho em departamentos de pesquisa em jornais impressos e on-line. 

 Entre 2012 e 2019 publiquei diariamente no jornal O DIA a coluna Memória do Dia, e o objetivo era 

mostrar a cidade do Rio de Janeiro em suas peculiaridades em fotos ainda em preto e branco. 

Lembro da imagem da obra de construção do Viaduto da Perimetral, demolido há poucos anos,

 lembro do comício das Diretas Já,  sorrio ao lembrar  do camelo que causou surpresa ao ser levado

 à Igreja Nossa Senhora da Paz para receber a benção do dia dos animais; lembro dos primeiros

 surfistas no Arpoador, da chuva de papel picado no último dia do ano, durante muitos anos, no

 Centro da cidade. Está tudo na retina. Emoldurar o dia a dia é fazer recortes da vida que em 

algum momento é sacudida por eventos marcantes, as grandes efemérides, construídas na

 dinâmica das cidades, nos acontecimentos diários das ruas, na forma de viver de cada morador

 desse planeta, a qualquer tempo.